É sábado, dia 04 de Abril, estou à porta da Ferconsult e o meu relógio marca 8:30 horas. Num outro fim-de-semana qualquer ainda estaria a meio do segundo sono, mas hoje não. Os seis elementos da equipa começam a chegar, um após outro, mais ou menos ensonados, porque o cansaço da semana também se faz sentir. Hoje temos dois objectivos a cumprir: Vamos entregar, roupas, sapatos, brinquedos e géneros alimentícios a duas instituições de solidariedade. Da parte da manhã iremos às instalações das Missionárias da Caridade - Irmãs de Calcutá, em Setúbal, e da parte da tarde iremos à instituição “Janela Aberta”, no Seixal.
Após acondicionarmos a carga, fizemo-nos à estrada e às 10 horas estávamos à porta das Irmãs da Caridade. Falámos com a Irmã Rosa, natural da Índia, entregámos as ofertas e fomos convidados a visitar as instalações e as crianças. Foi possível verificar o esforço em proporcionar às crianças que ali vivem, a sensação de um verdadeiro lar, independentemente de considerarmos que, como a maioria dos lares, também este poderia ser alvo de algumas intervenções de melhoramento. É bem patente, principalmente no caso das crianças com deficiência, o amor e a atenção constante de que necessitam e recebem. Não posso deixar de referir um dos momentos mais marcantes: ao visitarmos as crianças, fizemos uns carinhos a um menino deficiente, cuja única reacção foi verter uma lágrima… Posso dizer que foi marcante e que todos sentimos o mesmo. Ficamos com a sensação de que podemos fazer algo mais, e após conversarmos com a Irmã fica a promessa de um futuro contacto.
O dia já vai a meio e é hora de recuperar forças! Compramos mantimentos e fazemos um piquenique em plena serra da Arrábida. Durante o repasto faz-se uma avaliação da manhã: o primeiro objectivo estava cumprido. Fazemos uma pausa para tomar café e lá vamos nós a caminho da “Janela Aberta”, no Seixal. Chegados ao destino, fomos recebidos por um dos membros da Direcção da Cooperativa “Pelo Sonho É Que Vamos”, da qual faz parte a “Janela Aberta” para acolhimento temporário de crianças dos 0 aos 11 anos, o vizinho “Lar de Jovens em Risco Vida Nova” para acolhimento de jovens dos 12 aos 18 anos e a “Casa Abrigo Nova Esperança”, que acolhe mulheres e seus filhos pequenos, vítimas refugiadas de violência doméstica. A cooperativa também presta apoio social à comunidade por meio da “Creche Sonho Azul”, acessível a crianças de famílias com fracos recursos financeiros e a “Creche Familiar Colo Amigo” que trata da organização e apoio em suas casas de 12 amas, cada uma com 4 crianças a cargo.
Após breve contextualização das valências e necessidades da cooperativa, foi-nos mostrada a “Janela Aberta” e, além de uma visita às instalações, apresentados os bebés que lá se encontravam à guarda “temporária”, esperando que se resolvam os problemas dos graúdos de modo a, um dia, poderem ter uma família de verdade.
As instalações foram remodeladas no ano passado, estando em perfeitas condições. Ficámos um bocadinho com os bebés, olhamos uns para os outros e percebendo que, se ficássemos mais tempo, ficaríamos com a vontade de adoptar todos eles!
Ali ao lado, visitámos também o Lar de Jovens, onde saltou à vista o carácter de uma casa de família, elemento bastante importante para a integração destes jovens que a habitam, contribuindo para isso o facto de se localizar numa moradia isolada, com jardim. Nota-se um extremo cuidado dos responsáveis em todos os aspectos nos quais conseguem intervir, notando-se uma cumplicidade entre os pequenos residentes e os funcionários, inclusivamente, com o representante da instituição, que limpa o nariz ao Alexandre, de 10 meses, que quer colo e está constipado…
Reunimos toda a informação necessária para futuros contactos, e despedimo-nos, a caminho de Lisboa.
A sensação que fica é boa, não é a de dever cumprido, mas sim de uma etapa concluída, por hoje…
São agora 19:00 horas estamos de novo à porta da Ferconsult. Vamos para casa, porque as pessoas que nunca saem dos nossos corações, esperam-nos.
“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no oceano. Mas o oceano seria menor se lhe faltasse uma gota.” – Madre Teresa de Calcutá
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
( de Sebastião da Gama )